Dona Liberata

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Dona Liberata mora há uns 4 quilômetros da colônia Pajaritos, e a uns 30 quilômetros de Piura. Todos os sábados nós aparecemos lá na roça dela para juntos cultuarmos a Deus.

Liberata teve uma vida bastante sofrida, mas como mulher batalhadora que é, soube criar os filhos apesar das dificuldades e hoje, septagenária, mora sozinha em uma choça no meio de alguns patos, galinhas e um corrego seco, paisagem que ela observa dia trás dia. O esposo faleceu, os filhos se casaram e foram embora e o único filho que ainda morava com ela morreu de câncer há quatro anos. Desde então dona Liberata passou a morar sozinha naquela roça sem água encanada, luz elétrica e sem vizinhos. Segundo ela, já faz anos que ela não põe o pé na cidade: “Depois que o meu filho morreu, ninguém me leva mais, e sozinha eu não sei ir”, confessa a anciã.

Quando cheguei ali pela primeira vez, fui tocado por Deus de uma maneira especial. Haviamos caminhado durante aproximadamente uma hora e não encontramos nenhuma casa. Eu já pensava em voltar pelo mesmo caminho, quando avistamos aquela cabana no meio do nada. O pastor Luzimário foi o primeiro a pular a porteira (já que estava fechada e não havia taramela) e fazer contato, seguido por mim e por três jovens que nos acompanhavam. Ah... que privilégio poder falar de Jesus para aquela senhora! E com que atenção ela ouvia a Palavra de Deus! Todos ficamos emocionados quando aquela mulher decidiu seguir a Cristo. Dona Liberata também não conseguiu conter sua emoção quando lhe disse que fora Jesus quem nos enviara ali... “Como Jesus foi me encontrar aqui no meio do nada?”, ela se perguntava atônita.

Essa senhora nos recebe com muita alegria quando vamos ali e aguarda ansiosa nosso retorno a cada sábado. É o único dia da semana quando ela conversa com “gente”. O resto da semana ela passa entre os animais do campo e a areia quente do deserto piurano. Ela escuta nos atentamente, faz muitas perguntas e vibra cada vez que lemos um texto bíblico que ela ainda não conhece; ela tem fome e sede de Deus, como o salmista no Salmo 42. O momento da despedida é o mais triste, e quase sempre é acompanhado de lágrimas.

Vejo isso e penso nas palavras de Paulo: “E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?”. É claro que eu creio em um Deus que age soberanamente na história, mas não posso deixar de pensar no que aconteceria com a irmã Liberata, se eu tivesse dito não ao chamado do Senhor?

Que alegria poder participar da salvação de uma alma! Que privilégio servir a Deus no campo missionário. Como disse José Olaya, martir da história do Peru: “Se mil vidas eu tivesse, mil vezes eu as daria...”. Mas eu não daria a uma causa militar; eu as daria a Cristo e mil vezes eu seria um missionário: gastaria todos os meus dias de todas as minhas mil vidas para buscar aos perdidos como a irmã Liberata, que hoje é uma crente em Cristo Jesus e já não vive sozinha naquela choça no meio do deserto; Cristo prometeu estar com ela todos os dias até o fim do mundo!

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Foto: pastor Ilton (camiseta branca), missionário Leonardo (camiseta vermelha), e a irmã Liberata

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